sábado, 12 de janeiro de 2008

Neurociência: uma prática interdisciplinar

A neurociência é um termo que reúne as disciplinas biológicas que estudam o sistema nervoso, normal e patológico, especialmente a anatomia e a fisiologia do cérebro interrelacionando-as com a teoria da informação, lingüística (semiótica), e demais disciplinas que explicam o comportamento, o processo de aprendizagem e cognição humana bem como os mecanismos de regulação orgânica.

Essencialmente é uma prática interdisciplinar, resultado da interação de diversas áreas do saber ou disciplinas científicas como, por exemplo: neurobiologia, neurofisiologia, neuropsicologia, neurofarmacologia (neuropsicofarmacologia), estendendo-se essa aplicação à distintas especialidades médicas como por exemplo: neuropsiquiatria, neuroendocrinologia, neuroepidemiologia, psiconeuroimunoendocrinologia, psicofarmacologia etc.

Seu objeto de estudo: o sistema nervoso, contudo a complexidade deste, e em especial do sistema nervoso central da espécie humana, exige o estudo isolado de cada campo e o exercício da interrelação de pesquisas. Assim, apresenta múltiplas aplicações práticas na área médica (Neurologia, Psiquiatria, Anestesia, Endocrinologia, Medicina Psicossomática) ou paramédica (Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional etc.).

Um pouco de história

Se não considerarmos que o conhecimento de métodos de tratamento invasivo como trepanações, utilização de plantas psicoativas e outras técnicas de modificação da consciência e anestesia, fazem parte da neurociência, podemos tomar como data de criação desta interdisciplina a publicação de De morbis nervorum em 1735, de autoria do médico holandês Hermann Boerhaave, considerado o primeiro tratado de neurologia, ou a descoberta da função cerebral; que se atribui ao grego Alcmaeon da escola Pitagórica de Croton em torno de 500 aC, que discorreu sobre as funções sensitivas deste, reafirmado por Herófilo, um dos fundadores da escola de medicina de Alexandria (século III aC.), que descreveu as meninges e a rete mirabile (rede maravilhosa) de nervos (distinguindo este dos vasos) e medula com suas conexões com cérebro, cujo conhecimento foi sistematizado e demonstrado empiricamente, através do corte seletivo de nervos, por Galeno (130-211 aC.)

O estudo do cérebro e da mente

Duas estratégias básicas para abordar os problemas da mente-cérebro e/ou a principal aplicação prática da neurociência:

O estudo da função nervosa e suas alterações ou seja:

O coma, alterações da consciência e do sono;

Alterações dos órgãos dos sentidos, delírios, alterações do intelecto e da fala;

Distúrbios do comportamento, ansiedade e depressão (lassidão, astenia);

Desmaios, síncope, tontura (vertigens) e estado convulsivo;

Distúrbios da marcha e postura (tremores, coréia, atetose, ataxia);

Paralisias e distúrbios da sensibilidade e dor (cefaléia e segmentos periféricos);

Espasmos, incontinências e outras alterações da regulação orgânica.

O estudo etiológico das patologias do sistema nervoso:

Malformações congênitas e erros inatos do metabolismo;

Doenças do desenvolvimento, degenerativas e desmielinizantes;

Infecções por grupo de agentes e sítio anatômico (meningites, encefalites,etc.);

Traumatismo no sistema nervoso central e periférico;

Doenças vasculares (hipoxias, isquemias, infarto hemorragias);

Neoplasias (tumores malignos, benignos por tecido de origem e cistos);

Doenças neuroendócrinas, nutricionais, tóxicas e ambientais;

Transtornos mentais e distúrbios do comportamento

Para uma classificação mais detalhada de tais patologias, consultar os capítulos V (Transtornos mentais e comportamentais), VI (Doenças do Sistema Nervoso); e VII (Doenças do Olho e Anexo) da Classificação Internacional das Doenças 10ª Revisão – CID 10.

Bibliografia

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